quinta-feira, 19 de abril de 2012

Um mundo de livros (Thereza Christina Rocque da Motta)

Um mundo de livros para serem abertos e manuseados. Sempre se encontra algo interessante. Devorar com os olhos. Glutões da palavra. Ler, ler, ler, até se sentir refestelado.

31/03/2012 


Foto: Paulo Batelli

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Como é belo um livro (Umberto Eco)

"Como é belo um livro, que foi pensado para ser tomado nas mãos, até na cama, até num barco, até onde não existem tomadas elétricas, até onde e quando qualquer bateria se descarregou, e suporta marcadores e cantos dobrados, e pode ser derrubado no chão ou abandonado sobre o peito ou sobre os joelhos quando a gente cai no sono, e fica no bolso, e se consome, registra a intensidade, a assiduidade ou a regularidade das nossas leituras, e nos recorda (se parecer muito fresco ou intonso) que ainda não o lemos..."

Umberto Eco, "A memória vegetal e outros escritos sobre bibliofilia" (Record, 2010)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Tradição (João José de Melo Franco)



Uma centelha assoprada
pelos deuses.
Uma vontade erguida
por sete chamas.
A voz solitária
que sempre vem
pela via do deserto.
Todos, todos os mortos
da terra.
Todos, todos os cantos
da primavera.
O fruto de todas as colheitas.
A dor de todos os amores.
Nada, nada surpreende
ao poeta!
Escuta...
Escuta os passos na biblioteca
de Alexandria.
Escuta o ruído das penas que se quebram
sobre as mesas.
Escuta
o que dizem
as palavras do poema.


in "Périplo", Ibis Libris, 2012

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O objeto-livro (Thereza Christina R. Motta)



O objeto-livro
objeta:
qual parte de mim
que procuras?
É o todo ou o nada
que inauguras?
Que sorte te trará
minha leitura?

No mais das vezes
o que dizes
está dito
está escrito
já foi falado.
Mas o obscuro
olhar sobre a obscura fala
é o que o livro oculta.
Não só o que ilumina
mas o que incendeia
o pensamento
e ensina.

A leitura deste livro
pode ser uma obra.
Operar sobre si mesmo
como entalhe.
Lavrar a todo custo
o que lhe falte.
Apenas o silêncio
impera.

O livro-objeto
é o nervo exposto
da espera.
De nada adianta
desesperar:
lê, sê atento
ao que diz
o que é livre
para ser o que é.

Livre para ser
um livro.

25/10/2010 - 17h59

sábado, 1 de maio de 2010

Biblos (Thereza Christina R. Motta)

De fato, o livro surgia ante meus olhos
como um monumento.
Jorge de Lima

Eis o livro aberto, 
as páginas brancas aguardando o poema, 
antes mesmo de ser escrito. 
O livro é anterior ao texto. 
Eis-me áugure do momento irrealizado, 
a decifrar o mito contido nas palavras: 
as imagens jorram como água 
sobre o papel, 
o único a reter a vaga e a poesia, 
forjando na pedra 
o que já tinha sua forma 
e, mesmo interminado, 
é como deveria ser desde o princípio: 
monumento pronto antes de concebido.


in Odysseus & o Livro de Pandora, Ibis Libris, 2012


Livraria Leonardo da Vinci
Foto: Paulo Batelli



"Livros não foram feitos para serem acreditados, mas para se sujeitarem à dúvida." (Umberto Eco)

Livraria Travessa 1
Foto: Paulo Batelli

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O livreiro (Daisy Justus)

poucas disciplinas são mais
interessantes que a etimologia

em Paris um livreiro austríaco
abriu um sebo na Place des Vosges

no saguão do museu o poeta
recitou a breve composição

James Joyce escreveu Finnegans Wake
Dom Casmurro é quase um livro didático

quem é o dono do estilo:
o autor ou o personagem?

in "Sala de Ensaio", Ibis Libris, 2010

Livraria Prefácio
Foto: Paulo Batelli