2. Hoje em dia – muitos livros, pouco espaço – é mais fácil encontrar o que não se procurava. (Tal como no amor: por acaso.)
3. Nas livrarias muito grandes é prudente ir sabendo o que se quer. Pois não é recomendável deixar o desejo solto em um labirinto de livros: ele pode se perder.
4. As livrarias muito grandes estão na fronteira entre a livraria e a biblioteca. A imensa fartura entre o saber disponível e a capacidade de leitura ameaça esmagar o desejo.
5. (E todavia – “o mavioso canto”. As livrarias muito grandes são o prado das sereias.)
6. Com a mesma alegria de quem volta a seu país e sua língua, o leitor entra em uma livraria depois de um tempo – para ele – considerável.
7. As livrarias são o consulado do leitor, um pedaço de terra natal em qualquer país estrangeiro.
8. Se fosse dono de uma, que nome teria?
9. O leitor compra o livro. O livro exato. Possuir antecipa a leitura: produz a sensação da leitura antes da leitura. Por isso os livros emprestados não têm a mesma graça: só são lidos na leitura.
10. A livraria está para a casa como a biblioteca está para o mundo.
(Francisco Bosco, As Livrarias, "Da Amizade", 7Letras, 2003)
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