segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O livro infindável (Pedro Du Bois)

Folheio o livro
infindável
em temas
e termos
e resumos
e resenhas
e cálculos
e artifícios
e artilharia
pesada

releio o texto
e desconcerto
palavras em letras
indispostas
aos olhos
fechados

o livro infindável
multiplicado
em páginas
repete passagens
de errados personagens:

os mortos
os amortecidos
as mortalhas
a sensação indecifrável
do mistério na página
seguinte.

Absorvo o tema e o contemplo
em escala: a janela
do mundo transportada
à página anterior.

O livro infindável traz
a perda de tempo. O tremor
da terra devastada.


(...)


Fecho o livro, apago minhas marcas
sobre o insucesso da leitura. Destaco
em riscos o ranger dos dentes.

O livro permanece infindável na estante
onde repousa o instante inicial do personagem.



Livraria da Travessa
Foto: Paulo Batelli

Um comentário:

  1. Caríssima Thereza, gostei muito - da ideia e da sua formalização. Mais ainda, claro, pela inclusão do "...Infindável". Abraços, Pedro.

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